Palestra com Jorge Gonçalves (FFUP)
Título: Medicamentos, dogmas e utopias
Resumo: Assistiu-se, no século XX, a avanços sem paralelo no nosso conhecimento sobre o modo como os fármacos atuam, sobre os seus alvos moleculares diretos e sobre as cascatas metabólicas que medeiam a atuação nesses alvos e como desencadeiam a resposta fisiológica que se espera capaz de reparar a alteração induzida pela doença. Esse conhecimento molecular, mais detalhado do que alguma vez imaginámos ter, criou bases para quantificar e prever o efeito dos fármacos; para se estabelecerem leis que determinariam a ação dos fármacos e a resposta do organismo; para se desenhar estratégias infalíveis para remediar a doença e enganar a morte.
O conhecimento cresceu tanto e tão depressa que gerou certezas e um quadro dogmático incapaz de entender desvios a tais leis. O que não ocorre dentro da Lei é mais visto como anormalidades e desviado para a necessidade da “medicina personalizada” e menos como reconhecimento da insuficiência do quadro “legal” que suporta a capacidade preditiva. Temos tanta certeza nas certezas de hoje que temos dificuldade em aceitar que possam estar tão certas (ou erradas) como as certezas de outros tempos. Talvez seja o momento de as temperar com algum ceticismo e com alguma humildade e percebermos que hoje, tal como em qualquer tempo ao longo da História, vivemos num espaço balizado por dogmas e utopias, entre a aceitação dos limites presentes e o sonho de se conseguir a vida eterna terrena, vencendo, batalha a batalha, a guerra constante contra a morte
Sessão moderada por Alda Correia (NOVA FCSH)
25 de Junho de 2018 | 17h | Anf. III | FLUL
Projeto SHARE (Saúde e Humanidades Atuando em Rede), ref.ª PTDC/LLT-OUT/29231/2017, financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P. e por fundos FEDER através do Programa Operacional Regional de Lisboa.