Seminário Permanente com Mariana Baptista e Joana Monteiro
Mariana Baptista (ISCTE-IUL)
Os campos das Humanidades Médicas e da Medicina Narrativa na América do Norte e na Europa: resultados de uma scoping review
Tem ganho cada vez mais relevância, tanto no meio académico como nas práticas de saúde, o interesse pelas definições “medicina narrativa” [MN] e “humanidades médicas” [HM]. Estas traduzem ligações entre a área médica, a provisão de cuidados de saúde, a investigação e a formação profissional, com correntes epistemológicas críticas e reflexivas. Contudo, o interesse global no tópico contrasta com a falta de clareza do conteúdo, usos e fronteiras entre estes termos. Este estudo representa uma das primeiras abordagens sociológicas sobre o tema. Em concreto, visa perceber se MN e HM constituem campos independentes, complementares ou sobrepostos e como se definem internamente. A metodologia tomada consiste na realização de uma scoping review de literatura científica na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos da América. Foram identificados, triados, selecionados e brevemente analisados 1020 documentos científicos de MN e HM a partir das bases PubMed®, Science Direct e Scopus. Realizaram-se análises de conteúdo a 52 artigos, selecionados aleatoriamente, metade deles teóricos, os restantes empíricos, e igualmente distribuídos entre MN e HM.
Joana Corrêa Monteiro (FLUL)
Cantos Apertados
A filósofa britânica Philippa Foot (1920-2010) chamava “tight corner” a um problema conceptual com que se deparou, a dado ponto da sua vida intelectual, que basicamente consistia numa objeção aparentemente básica e incontornável a uma teoria geral que lhe parecia verdadeira. Eventualmente, Foot encontrou uma resposta para essa objeção e conseguiu acomodá-la nessa teoria, com pequenas alterações ou sofisticações. Ao ler recentemente sobre isso, constatei que estou numa posição semelhante, a propósito de outra teoria e de outras objeções. A teoria que me parece verdadeira é a proposta de Alasdair MacIntyre sobre a importância da narrativa, não apenas para a Ética, enquanto disciplina, mas para a ética enquanto questionamento ou exame da própria vida e das decisões e opções a tomar. Para MacIntyre, a narrativa é a forma através da qual é possível compreender e dar sentido à ação e a vida humanas e, por isso mesmo, é também o fator da qual depende a comunicação desse sentido. Esta ideia, compreende-se, extravasa facilmente o domínio da Ética enquanto disciplina filosófica, e encontra aplicação, por exemplo, na Medicina Narrativa e noutros contextos de Humanidades Médicas. Mas duas realidades familiares muito próximas parecem-me exemplos de situações em que existe comunicação, existe sentido, mas só muito dificilmente se poderia dizer que existe narrativa, pelo menos no entendimento que julgo que MacIntyre está a dar ao conceito. Nesta sessão, pretendo apresentar brevemente esta encruzilhada, na esperança de que da sua descrição e discussão possam surgir pistas para sair do “canto apertado”.
3 de Fevereiro de 2022, às 18h (Horário de Portugal Continental), via Zoom
Link: https://zoom.us/j/91714769426?pwd=NkN4M0g4c2pYNG5uZzdxRXBaUUFZQT09
ID da Sala: 917 1476 9426
Senha de Acesso: w6YHi9
A sessão será moderada por Filipe Castro Mesquita
Projeto SHARE (Saúde e Humanidades Atuando em Rede), ref.ª PTDC/LLT-OUT/29231/2017, financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P. e por fundos FEDER através do Programa Operacional Regional de Lisboa.